Eu quero é me enganar
Os trovões estão grunhindo
Tão alto que parei de ouvir
Nesse estado sonâmbulo
Asfalto molhado, céu embaçado
Costas no chão, coração na mão
Sempre reto, sigo um caminho incerto
De olhos vedados
A essa hora da noite
Depois do pico, resta o poço
Pintado de lodo
Quando o frio te consome e te faz delirar
Esquecendo a dor que nos trouxe aqui...
Parece inseguro, o mundo parecer tão seguro
Para um garoto mais velho do que aparenta ser.
Os trovões estão grunhindo
Tão alto que parei de ouvir
Mas meus miolos gritam
Que eu quero é me enganar
Em bebidas, me afogar
Não importa o quanto custe a vida
Vai valer a pena
Eu estou devendo a mais de mil
Sequer tenho o que me alimentar
Muito menos vou criar aqueles filhos que são meus
Vai valer a pena
Ah, vai
A vida é passageira
Ela deve ser vivida e exibida aos montes
Em todos os pontos cardeais
Eu quero é me enganar
Até chegar a madrugada do desejo
Querendo cada vez mais e mais
Sorrisos à venda que eu posso comprar
Corpos lindos que eu vou usar ao pagar
Então, tropeçarei nas minhas próprias pernas
Caindo bêbado ao chão de concreto
Ralando os braços, os joelhos e as mãos
Mas vai valer a pena, não vai?
A cabeça ainda aberta da queda
O sangue, sendo lavado pela chuva,
Reluzia as luzes dos postes da estrada
Mas vai valer a pena, não vai?
Como eu poderia imaginar
Que eles iriam me deixar assim?
Minha família desistiu de mim
Filho, filha, se vocês não estão ao meu lado,
Acho que tomei o rumo errado
E não percebi o outro lado
E, agora, o que faço?
Na rua, estou deitado
Ouvindo o barulho dos carros que passam rápidos
Jogando água em meu rosto
Sem ninguém por perto
Para me assistir dormir o sono eterno.