Café com gosto de saudade

Enfim o sol começa a desenhar, no horizonte,

o recomeçar da caminhada rumo aos sonhos.

Grandioso e humilde, esticando seus raios

numa preguiça deleitosa,

sobre os campos e paiolas,

desembrulhando suavemente a escuridão.

E o astro-rei, aos poucos,

acorda a geada de mansinho,

como a mãe o filho com um beijinho.

Riqueza singela que repousa tranquilamente,

brilhando nos olhos de quem a vê.

O primeiro bem-te-vi ameiga o canto.

Que seja bem-vindo um novo dia,

um dia novo que convida o sono

a passear com a lua em outro lugar.

O cheiro de café pela casa a se espalhar...

Os biscoitos pintados, de farinha misturada ao amor,

compõem uma mesa onde pão e geleia

formam uma doce sinfonia.

E os sons dos irmãos na casa

competem alegremente com a voz suave materna

e o olhar terno do pai.

O fogão alimenta-se sereno

esquentando toda a cozinha.

É tanto calor que os vidros suam!

Ver a geada partindo do lado de fora:

um convite para uma boa prosa

que aconchega a alma para partir quentinha

rumo à escola e o trabalho do campo.

Eu quero sempre sentir o sabor doce de um bom dia,

confeitado com risadas e olhares de carinho.

Encher minha xícara com o café da esperança

sentindo o calor da companhia da família,

aquecendo minha alma e coração.

O tempo passa e passa...

Enquanto estou com pressa e atrasado,

provo do gosto amargo do café solitário

e do pão árduo a ser conquistado.

Mas, entre horários e trânsito lotado,

degusto goles desse café bem passado

com sabor de sincera saudade.