Transparente coração
Estou perdendo minha forma
Estou rompendo minha forma
Molde este que eu mesmo me dei
E agora já não consigo me adequar
Nas veias cristalinas naturais
Correm amarguras de mil origens
De mil tempos; mil momentos
Tenham sido eles vividos ou não
Não por mim, nem por outro eu
Mas algum de fora que vem a se anexar
Que profana o brilho daqueles cristais
Cuja beleza se mantém à um fio da morte
A ruptura; a inexistência
Em cem mil fragmentos, ou em nenhum
Esses cacos soltos não podem ser coisa alguma
Mas com todos juntos, também não sei quem sou
E se do fim vem o descanso
Talvez ele seja o meu desejo
E se do recomeço vem a paz
Talvez ele seja o meu sonho
Um sonho onde após outra pancada
Cravada funda da rocha sólida
ao invés de soterrado sob a minha busca
Eu acabe por me encontrar do outro lado
Me encontrar, por inteiro
Sem estranhar a incomum visão
De me ver nas cores duras, mas alegres
Refletidas em algum cristal que se perdeu
A minha pedra preciosa
Inlapidável, inestimável
Enterrado sob mil mistérios
O meu transparente coração