Graça do viver
Quando mais jovem, pensava
Que sorrir de graça, pelo nada
Era puro sinônimo de loucura
Mas o tempo me mostrou, do próprio jeito
Que independente do que me tenha feito
Não existe um melhor jeito
De manter-me ainda são
Fazendo graça do fracasso
De ser vencido pelo acaso
De ser dobrado e desdobrado
Pelo próprio reflexo embaçado
De não ver que a beleza bruta
Está na brutalidade bela
De viver a vida crua
Temperada apenas pelo sangue
E com uma pitada de sal
De moldar o acaso para que seus amores se sobressaiam
Para girar ao som das músicas que não se ensaiam
Para entregar o coração ao sentimento que não se vê
De ser parte de uma peça que ninguém pode reescrever
De não ver alem do seu defeito
Que o natural, é imperfeito
E que daí nasce a sua perfeição
De temer ao estender a mão
Para se agarrar a própria paixão
De respirar o tempo, de sentir o chão
De ser o ser que se espera do outro ser
Para encontrar em si o que as chuvas nunca lhe trarão.