Repente: Cidade Grande
Tanta gente alienada,
Indo de um lado a outro,
Andam cuspindo de raiva,
Parece cachorro doido.
Cidade Grande enlouquece,
Semana comendo ovo,
Final de semana é pinga,
Para esquecer de todo estorvo.
Saudade do meu sertão,
Lá riqueza não havia,
Mas também esta moléstia,
Com nós ninguém rebolia.
Povo aqui é tudo louco,
Vivem tudo cuspindo fogo,
Ganham dinheiro pra nada,
Só pra fazer inveja nos outros.
O pombal é organizado,
Tem prédio pra todo lado,
Às vezes alguns avoam,
E a morte que pega à toa.
Nunca vi mulher pari,
Acho até que bota ovo,
E pra entrar nesse aperto,
Só um em cima do outro.
Também ninguém dá bom dia,
Comem a marmita fria,
Resumem nordeste à Bahia,
Estudam, mas não geografia.
Aqui não há vaca, há caixinha,
Leite é água branquinha,
Verdura se colhe em pia,
Uma tal de hidroponia.
Todas as mentes são cheias,
E todas cabeças vazias,
Um é melhor do que o outro,
E se for pobre, mais te pisam.
Tô indo embora meu povo,
Aqui não fico nem mais um dia,
Prefiro o sofrer da roça,
Do que essa falsa alegria.