Onde eles estão?
Moradores
de uma cidade que não vê
e não sente a presença
Não deseja perceber
que eles estão descalços
pisam, frágeis, doem-lhes
os ossos
e o âmago da existência
amargo
direitos amassados
dinheiros em arames farpados
que corroem-lhes a dignidade
e eles quase não são notados
atados
suturados
costurados
em indiferença
Somam o descaso
Raiz quadrada de uma estatística
apoiada
em ofensas
A estes seres humanos
pelados
pelo respeito
esquecido
de quem não os conhece
e só se despem das suas
obrigações
com aqueles malogrados
indivíduos
Roídos
doídos
bebidos pela madrugada
que os apaga
pela chama que queima
as suas casas
de papelão
e carrinhos, cachorros e
alucinógenos que os fazem
dormir
Até que algum pesadelo os leve
para a parte inferior de um
tapete que será enrolado
pela piedade íngreme das
igrejas que não os acolhem
e só pedem perdão pelas suas
almas encardidas
pelo descaso