Onde eles estão?

Moradores

de uma cidade que não vê

e não sente a presença

Não deseja perceber

que eles estão descalços

pisam, frágeis, doem-lhes

os ossos

e o âmago da existência

amargo

direitos amassados

dinheiros em arames farpados

que corroem-lhes a dignidade

e eles quase não são notados

atados

suturados

costurados

em indiferença

Somam o descaso

Raiz quadrada de uma estatística

apoiada

em ofensas

A estes seres humanos

pelados

pelo respeito

esquecido

de quem não os conhece

e só se despem das suas

obrigações

com aqueles malogrados

indivíduos

Roídos

doídos

bebidos pela madrugada

que os apaga

pela chama que queima

as suas casas

de papelão

e carrinhos, cachorros e

alucinógenos que os fazem

dormir

Até que algum pesadelo os leve

para a parte inferior de um

tapete que será enrolado

pela piedade íngreme das

igrejas que não os acolhem

e só pedem perdão pelas suas

almas encardidas

pelo descaso

YOUNG
Enviado por YOUNG em 01/04/2021
Código do texto: T7221010
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