EU O CONHECI

Eu o conheci.

Era um garoto de nove anos, negro.

Quando corria parece que tinha asas.

Pediu um dinheiro, perguntei por quê.

Queria comprar uma casa pra mãe.

A sinceridade dele rompia minha hipocrisia.

Ele me disse que queria chegar aí topo,

ganhar muito dinheiro, vencer na vida.

Dei adeus, voltei pra casa, o rio seguia seu curso.

Alguns anos depois aceitei defender um detento.

Entrei no presídio, era ele.

Não nos reconhecemos imediatamente.

Conversando, me lembrei, ele se lembrou.

Foi confundido com um assaltante,

pegou doze anos.

Não consegui livrá-lo.

Entrou numa briga no presídio e foi assassinado.

Dias depois, voltei pro interior.