AINDA ONTEM
O passado, debruçado sobre o muro,
acompanha, com o olhar, as crianças
que caminham sobre a relva,
rumo ao futuro...
Ele se lembra de quando o espiavam,
era ele que seguia pela estrada poeirenta
carregando os próximos acontecimentos,
calhamaços de poesias em suas mãos,
sabia que muitos iriam embora, outros viriam,
o tempo não esconde suas intenções,.
nem os dentes rígidos do outono...
Muito antes do começo de tudo,
havia as noites iguais aos dias,
a fumaça se misturava ao hálito dos deuses,
não havia porque contar os dias,
o tempo nem havia nascido,
éramos a fábula do deus original...
Hoje, enclausurados entre roldanas
e mecanismos, vivemos nas mãos
de quem dá corda no relógio
da praça central.