Simples não era.

Não que parecesse simples

Não desse jeito bem feito

Que toda simplicidade exigisse

Sem que tivesse o modo complicado

Que as coisas insistem em preservar

Pra que nada se encaixe

Como uma porta aberta, um batente

e a corrente de vento soprando cortante e indiferente

O bastante pra que a gente desista de fechá-la

Coração se abate, se cala diante de tanta tristura

Mas a vida, essa não pára

Não que parecesse simples

Não, não era como o outono após a primavera

Sem metáfora, aforismo ou metonímia

Só a lembrança do passo que pisava leve

Pela rua das pedras escorregadias

Cujos pés um dia nunca mais voltaram

Não que a vida fosse complicada

Não, não era nada disso

É que o mundo lá no fim da rua tinha um viço

Cujos olhos deslumbraram.

Edson Ricardo Paiva.