sim, é sobre o medo
Eu tenho medo.
Eu tenho medo o tempo todo.
Porque o tempo é hoje
mas vai ser amanhã também.
Eu tenho medo.
Tenho medo de sonhar
e ter o pior dos pesadelos.
Tenho medo de que os monstros
me ataquem enquanto eu durmo.
Mas hoje eu descobri
que os monstros são eu mesma.
Eu tenho medo de mim
e do que eu posso fazer na tristeza,
na angústia e no desespero.
Há várias versões de mim
e eu tenho medo de todas elas.
Mas um em especial
eu tenho pavor da aquarela.
Mesmo achando que ela é a mais bonita.
Quando a vejo,
quero me jogar da janela,
direto pra um precipício
de almas todas belas.
Almas que também tinham
medo delas
e que, de tão belas,
merecem um paraíso só para elas.
Eu ainda tenho medo.
O medo me suga a energia
e me devolve em lágrimas.
Sei que deveria manda-lo embora
mas ele é forte e consome a vitória.
Me rasga por dentro e a
minha carne chora.
Chora porque quer ser livre
e não pode,
eu não deixo.
Chora porque cansou de esconder
a verdade em paredes.
Chora porque quer
derrubar as paredes
que a prendem das belas almas.
A carne quer jogar flores
para as almas
mas atira espinhos.
(sem querer).
Eu não acredito tanto nas flores
e eu tenho medo delas.
Bonitas brácteas sutis
me enganam e fazem pensar
que eu posso contar minha vida a elas.
Mas eu não posso.
E se eu pudesse?
Diria que o sol me cansa.
Diria que as paredes se juntam
e todas se unem numa pequena dança.
Diria que eu gosto do céu
e das nuvens que ele alcança.
Não. Diria que eu tenho medo
e que, no futuro, espero que
isso seja apenas uma lembrança
de um tempo em que eu
desconhecia a esperança.