Mote dos cativeiros da Vida

Cativeiros da Vida e do Mundo:

nós somos prisioneiros/

de algo ou de alguém.

Sentimento diversificado em subtópicos.

Linha cronológica:

nascimento, vida e morte.

Usado "plural coletivo" nós.

Contém 11 estrofes.

1) Nascidos vivos

Lá do ventre maternal,

saímos muito indefesos;

e entramos na Vida presos

ao cordão umbilical.

Esse passo inicial

é de quem ao Mundo vem,

que passa por mão também

de parteiras ou parteiros.

Nós somos prisioneiros

de algo ou de alguém.

2) A Vida como viagem

Tomamos o Trem da Vida

— com destino à prisão —,

chegando à última estação

com sentença recorrida.

Depois da pena cumprida,

a Liberdade não vem.

E nos vagões desse trem

do qual somos passageiros,

nós somos prisioneiros

de algo ou de alguém.

3) Patrulhamento e espionagem

A liberdade de imprensa[1],

dita na Constituição:

para o fraco, é ilusão,

que, ao poderoso, compensa?

Se o fraco diz o que pensa,

fica sujeito também

a ser preso por quem tem

espiões e patrulheiros?

Nós somos prisioneiros

de algo ou de alguém.

Nota:

[1] Liberdade de imprensa: direito que tem a imprensa de emitir opiniões e pensamentos sem censura prévia, mas guardando critérios éticos (HOUAISS).

4) Liberdade de expressão

É pequena a liberdade

de expressão e de imprensa.

Quem falar tudo que pensa

pode até “entrar na grade”?*.

Gente de autoridade

com mentira, com harém,

será que gosta de quem

faz artigos verdadeiros?

Nós somos prisioneiros

de algo ou de alguém.

*nesse verso, "entrar na grade" significa "ir para a cadeia".

5) Bisbilhotagem

É o controle social

exercido sobre nós

que nos cobre com “lençóis

de tecido prisional”.

“Muita câmera virtual,

no celular, ‘ele’ tem.”

É instalada por quem?

quem são os bisbilhoteiros?

Nós somos prisioneiros

de algo ou de alguém.

6) Vigiados

Seguindo-nos com o olhar,

— na cor, no gesto e na roupa... —,

alguém não deixa nem poupa

o que nos pode tirar!

Um anjo vem nos livrar

desse mal que nos detém;

mas, enquanto ele não vem,

somos alvos dos "olheiros".

Nós somos prisioneiros

de algo ou de alguém.

7) Metáforas

“A preguiça é” conhecida

como “a chave da pobreza”;

e a chave da esperteza,

a Astúcia guarda escondida;

a chave do Trem da Vida,

o Destino é que detém.

É tanta chave que nem

cabe nos nossos chaveiros.

Nós somos prisioneiros

de algo ou de alguém.

8) Naturalmente ou não

Somos presos ao horário;

ao sono, que adormece.

A Vida toda parece

um sistema carcerário.

A prisão tem donatário.

“Cada Um dá o que tem.’’

Sendo assim, não falta quem

nos queira dar cativeiros.

Nós somos prisioneiros

de algo, ou de alguém.

9) Hospitalizados

No hospital, nós, doentes,

precisamos de roupeiro,

de médico, de enfermeiro,

de remédio e atendentes.

“Chamam-nos de pacientes,

pra não chamarmos ninguém?”

Sem chamado, a Morte vem;

precisamos de coveiros.

Nós somos prisioneiros

de algo ou de alguém.

10) Globalização

Por um “mercado global’’,

— quem sabe? — venha ao País

uma empresa que se diz

ser multinacional;

e contrate pessoal

em São Paulo ou Santarém,

fazendo “um milhão e cem

escravos de empreiteiros”.

Nós somos prisioneiros

de algo ou de alguém.

11) Compra pela Internet

Ao comprarmos um produto

por meio da Internete,

sabemos que nos compete

aguardá-lo no reduto.

Além de pagar tributo,

no preço que o mesmo tem,

em casa, nós somos quem?

só esperando os carteiros?

Nós somos prisioneiros

de algo ou de alguém.