Oh dois Oh! - Denise Reis
A vida é fecunda
como um sol que se derrama,
pelas frestas dos casebres
iluminando suas tristes extensões.
No ar, o extremo óxido
onde o oxigênio se estende,
como um lençol sobre corpos
maquiados e bem vestidos
para a morte.
(Como o rio que era para a transparência
dos que nele se desdobram
o básico da vida
seria apenas viver como o rio.
Mas há bandeiras
e dentes afiados
roendo os ossos dos viventes
para alimentar o poder
de ser mais que o mar.)
Uma criança dorme
pura como os poetas
que incineram seus escritos
para permanecerem inconfessos,
omo um olho sem vidraça
alcançado pelo silêncio das imagens
que mesmo reais não são vistas.
Oh ar! Oh sol! Oh mar! Oh verde!
e suas espessuras fotossintéticas
quem dera fossem as dores
apenas anônimos pardais
na lucidez das cidades
e despertassem os fatos
no sonho ilegítimo dos homens.
Oh eu! Insana a pensar em Deuses
em alturas e verdades cósmicas
Oh eu! Insípida, inodora, comburente,
não combustível e pouco solúvel em água
rodeada por incautos suicidas
que respiram cor para a visibilidade dos dias
venho falar das palavras que a tão pouco aprendi
sem ao menos me plantar no mundo
e ser fórmula- como tudo é.