Oh dois Oh! - Denise Reis

A vida é fecunda

como um sol que se derrama,

pelas frestas dos casebres

iluminando suas tristes extensões.

No ar, o extremo óxido

onde o oxigênio se estende,

como um lençol sobre corpos

maquiados e bem vestidos

para a morte.

(Como o rio que era para a transparência

dos que nele se desdobram

o básico da vida

seria apenas viver como o rio.

Mas há bandeiras

e dentes afiados

roendo os ossos dos viventes

para alimentar o poder

de ser mais que o mar.)

Uma criança dorme

pura como os poetas

que incineram seus escritos

para permanecerem inconfessos,

omo um olho sem vidraça

alcançado pelo silêncio das imagens

que mesmo reais não são vistas.

Oh ar! Oh sol! Oh mar! Oh verde!

e suas espessuras fotossintéticas

quem dera fossem as dores

apenas anônimos pardais

na lucidez das cidades

e despertassem os fatos

no sonho ilegítimo dos homens.

Oh eu! Insana a pensar em Deuses

em alturas e verdades cósmicas

Oh eu! Insípida, inodora, comburente,

não combustível e pouco solúvel em água

rodeada por incautos suicidas

que respiram cor para a visibilidade dos dias

venho falar das palavras que a tão pouco aprendi

sem ao menos me plantar no mundo

e ser fórmula- como tudo é.

Denise Reis
Enviado por Denise Reis em 12/01/2021
Código do texto: T7158275
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