O cimo do olhar - Denise Reis
Um olhar se perdeu
no silêncio da noite
assumiu palavras nebulosas
e constelou-se em dores
insustentavelmente agudas
o sonho se exauriu
um céu com cheiro de sangue
guardou os voos
em suas sombrias indelicadezas
as coisas dormidas
com seus cantos fúnebres
velaram todos os pousos
e os pássaros
eram como poemas nunca lidos
fora algumas minúsculas sementes de sol
tudo era sepulto
nada era chamado pelo nome
e as inutilidades eram explicitas
-a noite rezou flores-
ajoelhada nas orbitas úmidas
de quem olhava sem ver
implorou aveludadas pétalas
a noite caiu como caem os esteroides
até que uma faca que não corta o fogo
cortou a voz do silêncio
uma pupila vigilante
naufragou no paraíso
e tudo que se podia ver
era o brilho inexaurível da esperança
a espera de um olhar
com ofícios de ver
as harmonias do mundo
então - o sol brotou no meio da noite
e todos os nomes e seus sonhos
luziam significados de paz.