O cimo do olhar - Denise Reis

Um olhar se perdeu

no silêncio da noite

assumiu palavras nebulosas

e constelou-se em dores

insustentavelmente agudas

o sonho se exauriu

um céu com cheiro de sangue

guardou os voos

em suas sombrias indelicadezas

as coisas dormidas

com seus cantos fúnebres

velaram todos os pousos

e os pássaros

eram como poemas nunca lidos

fora algumas minúsculas sementes de sol

tudo era sepulto

nada era chamado pelo nome

e as inutilidades eram explicitas

-a noite rezou flores-

ajoelhada nas orbitas úmidas

de quem olhava sem ver

implorou aveludadas pétalas

a noite caiu como caem os esteroides

até que uma faca que não corta o fogo

cortou a voz do silêncio

uma pupila vigilante

naufragou no paraíso

e tudo que se podia ver

era o brilho inexaurível da esperança

a espera de um olhar

com ofícios de ver

as harmonias do mundo

então - o sol brotou no meio da noite

e todos os nomes e seus sonhos

luziam significados de paz.

Denise Reis
Enviado por Denise Reis em 10/01/2021
Reeditado em 25/03/2021
Código do texto: T7156857
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