Pandemia
ocorre-me, sempre,
a dúvida inquietante
das histórias por trás
de tantas vidas
que passam
por essas ruas.
a estranheza dos olhares
acostumados a tudo
ou indiferentes ao nada
a pressa tanta para se chegar
ao lugar que não existe
aonde nenhuma coisa sustenta
estando além dos limites.
sabota-me o lado curioso
de querer saber onde pisam
esses corpos
quando se colocam a imaginar
ou a relembrar
memórias distantes
o beijo não dado
ou demorado
o término do que não foi vivido
fim das fantasias incorporadas.
agora, estando todos escondidos,
por detrás dessas máscaras
sob diversas formas e estampas
mas, sempre, mistérios
guardadores de ares afoitos
de corações em desconsolo
construímos muros sobre sonhos
refazendo, lentamente, arrepios.
somos alguns isolados
e tantos desolados
pelas tragédias e angústias
de anos cabíveis
em um único.
ocorre-me, em meio a isso,
a dúvida
aquela assombrosa dúvida
quantos nós
somos todos
ainda que individualizados?
quantos eu’s existem
dentro de nós
vários?
apesar de mim
de você
do outro
sem cessar
a vida vai, brutalmente,
acontecendo
(des)percebida
e o que há
não é
para tardar:
é pra já.