A Porta

As palavras caiam feito migalhas que se espalhavam naqueles dias, eu me aferrava a elas como uma criança que precisa brincar antes que passe o tempo.

O tempo corria veloz e passava diante dos meus olhos, não poderia detê-lo.

Havia algo denso naquela manhã, uma brisa fresca tomava conta da casa e tocava a minha pele quase como um apelo.

Ao som da minha música, fechei os olhos por um instante, dancei, sozinha. Feito uma menina que sabia que era preciso continuar, não no mesmo lugar. Ouvi batidas na porta, a tensão se presentificou, pensei em me esconder, sabia que uma vez aberta aquela porta nunca mais poderia fechá-la, hesitei por longos segundos que se transformaram em minutos difíceis, virei-me procurando alguma saída, não havia! Me arrastei relutante até a porta, algo doeu em mim, não queria perder!

As batidas se tornavam cada vez mais fortes, não sabia como ignorá-las, não conseguia, já não. Apertei as minhas mãos, os passos pesaram, recuei dois passos, a respiração acelerou, o coração disparou, por que ela não se abre sozinha? Gritei com os olhos cheios de lágrima. Gritei para a porta, me senti enfurecida, gritei para mim mesma, gritei para as malditas lembranças que insistiam em ferir, gritei para a brisa.

O espelho se fez caco, seus pedaços se espalharam por toda a casa, um leve corte ao tentar juntar aqueles pedaços, chorei pelo que representava aquele velho espelho, chorei como quem perde um lugar conhecido.

Enxuguei os meus olhos, respirei fundo, me senti forte, segurei a maçaneta, precisava fazer isso, era eu ou ela, girei, agora precisava abrir, não havia mais volta.

Havia algo naquela manhã, a brisa entrava através da janela e sacudia até os meus sentidos, a música doía de um novo jeito, não havia volta, dancei, sozinha.