O Tempo Passou Por Mim
Por Nemilson Vieira (*)
O tempo não se fadiga do seu galopar sem fim. Às horas, os dias, os anos passam depressa… Enquanto penso e escrevo o tempo se esvai e o vejo pelas costas. Não gosta de ater-se no seu trajeto. Passou por mim como um raio num extremo ao outro nos céus. Nem deu para marcar com exatidão as suas características peculiares. Não nos entreolhamos como devia nem nos amamos o suficiente.
O tempo é uma coisa difícil de administrar-se; um bicho bruto demais. Nunca fui treinado a lidar adequadamente com o tempo e envolvi-me em lemas e dilemas. Não vivi com a intensidade que devia, sob o seu domínio. Nem tive o privilégio de cronometrá-lo ao meu favor.
Se o tenho em abundância, ponho-me a gasta-lo desmedidamente; se me falta corro atrás dum tempo perdido. Em alguns casos, como um cão a correr atrás do rabo, sem o alcançar. Exponho-me a um perigo eminente, desnecessário.
Lá vai o tempo resoluto, senhor da razão, numa marcha batida; atleta vencedor de todas as competições.
Já tomei tantas rasteiras e tombos, do tempo, ao passar, que nem sei quantificar, mas não o tenho como inimigo.
Hoje, já um tanto fragilizado pela sua ação, com menos resistência física, mobilidade reduzida, limitações ao trabalho…
Restou-me por trás das espessas lentes, entreter-me na leitura das últimas paginas do livro que sou eu.
Quem sabe assim, tirarei mais algumas lições de vida, que serão úteis ao restante da viagem, no pouco tempo que ainda me resta.
*Nemilson Vieira
Acadêmico Literário.