Estas Letras
Estas letras, ora geográficas, ora atemporais,
ora misturadas, ora desfalcadas, anormais?
Estas letras, ora mortas, ora pálidas, adormecidas,
aliviadas ganham vida em vida.
Estas letras, ora às avessas, ora bagaceiras,
ora poéticas, ora sensíveis, cobiço-as.
Estas letras, ora menina, ora mulher, ora inanimada,
nem sempre me satisfazem.
Estas letras convenientes, ora buscam preenchimentos,
ora deixam lacunas, causam-me dor.
Estas letras enlouquecem-me, empobrecem-me,
enriquecem-me e tiram-me o sono.
Estas letras, insisto, desejo-as, busco-as,
encontro-as e alegro-me.
Estas letras que se camuflam, ora dizem tudo,
ora dizem nada, se insinuam.
Estas letras, necessito-as, escalo-as, internalizo-as,
persigo-as, transfiguro-as, delicio-as.
Estas letras, ora folclóricas, ora eruditas,
manifestadas brincam de faz-de-conta.
Estas letras dramáticas brotadas de lágrimas
sombrias, escurecem-me.
Estas letras passageiras, estratégicas,
presencio-as em sonho.
Estas letras simuladas, teatrais,
mascaradas, imortais.
Estas letras rítmicas, melódicas,
aceleram-me, motivam a existência.
Estas letras registradas passeiam entre cavernas,
grutas, papéis e telas, são-me vitais.
Estas letras ensaiadas, discursadas,
bem faladas, manipulam-me.
Estas letras adoecidas, misteriosas,
filosóficas, brincam de ciranda.
Estas letras visíveis brincam nas linhas e
escondem-se nas entrelinhas.
Estas letras lógicas e objetivas:
incompreensíveis.
Estas letras enroladas, inalcançáveis,
codificadas, subjetivas: decifro-as.
E nesse gozo, decolo, voo, aterrisso,
rastejo, mergulho, viajo, iludo-me e tudo mais.
Ah! Estas letras...
A minha alma necessita
deste universo inesgotável de letras...
Janaína Ciquelero Bellé