Vácuo

Num espaço de memória

Rugia a locomotiva dos dias

Lembro ainda hoje das rodas

Que sedentas arranhavam os trilhos

Era rápido o correr do tempo

Quando eu tão pouco tempo tinha

E qualquer movimento então

Parecia muito maior que era

Minha pequenez diminuiu aos poucos

E aos muitos dias se juntaram outros

Como podiam ser tantos, se cada vez eram mais?

E tudo que era muito foi assim ficando pouco...

O trem nunca parou com seu motor bufando

E o bater constante dos pistões era o mesmo

Mas já não parecia tão rápido

Nem parecia tão sedento.

Eu sinto saudade do ferro recém forjado

Sinto falta de ver meu reflexo nas paredes dos vagões que voavam

E até de ouvir os trilhos vibrando sob as rodas

Eu nunca vi esses trens parando

E nem sei se param de fato

Mas por ver a ferrugem dos dias

Que rói aos poucos todos - os - carros...

E por saber que estes trens sempre rodaram aqui

Me pergunto quem envelhece de tanto respirar:

Se é o metal, ou se sou eu.

iKuartz
Enviado por iKuartz em 18/12/2020
Código do texto: T7138477
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