Vácuo
Num espaço de memória
Rugia a locomotiva dos dias
Lembro ainda hoje das rodas
Que sedentas arranhavam os trilhos
Era rápido o correr do tempo
Quando eu tão pouco tempo tinha
E qualquer movimento então
Parecia muito maior que era
Minha pequenez diminuiu aos poucos
E aos muitos dias se juntaram outros
Como podiam ser tantos, se cada vez eram mais?
E tudo que era muito foi assim ficando pouco...
O trem nunca parou com seu motor bufando
E o bater constante dos pistões era o mesmo
Mas já não parecia tão rápido
Nem parecia tão sedento.
Eu sinto saudade do ferro recém forjado
Sinto falta de ver meu reflexo nas paredes dos vagões que voavam
E até de ouvir os trilhos vibrando sob as rodas
Eu nunca vi esses trens parando
E nem sei se param de fato
Mas por ver a ferrugem dos dias
Que rói aos poucos todos - os - carros...
E por saber que estes trens sempre rodaram aqui
Me pergunto quem envelhece de tanto respirar:
Se é o metal, ou se sou eu.