PROCURA-SE UM POETA

Desapareci em 15/03/1953.

Numa noite fria e chuvosa.

Estava cansado daquela vida de carros, bares,

tv, mulheres free-lancers, poemas sem graça.

Abri a porta e saí andando sem olhar pra trás.

Quando não se procura é aí que se acha as coisas.

A primeira sensação de se entrar numa floresta

é pensar que vai achar um amigo, uma porta

aberta, uma lâmpada igual a essas de rua.

O medo é o que menos importa.

Se vier um tigre, um urso, alguém armado, e daí?

Na vida a gente deve esperar por surpresas,

um uivo distante, o grito da tempestade raivosa,

o homem precisa de nervos acesos, curiosidade.

O meu desaparecimento nem foi notado.

Esse negócio de jornais, rádio, boca a boca,

não fez de mim um sujeito imprescindível.

Os poemas no meu bolso do paletó surrado,

cada um deles, se sentiu livre pela primeira vez.

Sem o meu domínio puderam ver o mundo

como ele é; mostrarem suas faces aos leitores.

Nunca mais ouvi falar de mim.

Isso foi bom, o ego já desenvolvido, sumiu.

Se vocês ouvirem alguma coisa sobre mim, esqueçam...

Eu sumi em 53 e não voltei, até hoje.

No céu não sabem que vim pra Terra.