Jardineira
Tenho arestas de podar
Tenho raízes difíceis de cortar
Tenho galhos, folhas e frutos de outras estações
Tenho tempestades que se repetem
E secas que emudecem
Tenho saudades, dor e raiva do que não vivi
Tenho a esperança do ipê que resiste
Quando a vida deserta
Tenho uma e várias sementes
Tão fortes
Que quanto mais enterra, mais alto floresce
Eu carrego em mim
Uma primavera inteira
De cigarras ensurdecedoras
Que gritam até o limite do fim
Tenho um torrente desejo
De ser uma e ser todas
De caber
De encaixar
De ser tua
Porque teu desenho transcreve o amor
Eu sou a dor da ancestral lagarta
Que decidiu sair do casulo
E viver a primavera
Que me foi permitida