Jardineira

Tenho arestas de podar

Tenho raízes difíceis de cortar

Tenho galhos, folhas e frutos de outras estações

Tenho tempestades que se repetem

E secas que emudecem

Tenho saudades, dor e raiva do que não vivi

Tenho a esperança do ipê que resiste

Quando a vida deserta

Tenho uma e várias sementes

Tão fortes

Que quanto mais enterra, mais alto floresce

Eu carrego em mim

Uma primavera inteira

De cigarras ensurdecedoras

Que gritam até o limite do fim

Tenho um torrente desejo

De ser uma e ser todas

De caber

De encaixar

De ser tua

Porque teu desenho transcreve o amor

Eu sou a dor da ancestral lagarta

Que decidiu sair do casulo

E viver a primavera

Que me foi permitida

Menina Beijaflor
Enviado por Menina Beijaflor em 27/11/2020
Código do texto: T7121809
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