EM TODO LUGAR

Ando por aí,

a caçar versos grudados nas pedras,

disfarçados de pintassilgos, tuins,

enroscados nas cercas, fingindo

serem pés de chuchu, lagartos,

caem dos lábios das lavadeiras

e se fingem de mortos,

até que passem os urubus,

as águias famintas,

a enxurrada,

o aluvião...

Vi no teu quintal um pé de poesias,

o tronco cheio de nós, folhas adormecidas,

formigas riam, uma sensação de equilíbrio

como se o mundo ouvisse os versos

cantados pela voz da água, deitada

no colo da grama, gargalhando gotas...

Estão por toda parte, os versos,

dentro de navios afundados,

submersos, no olhar

da moça que passa,

no corpo do vinho,

na frágil taça...