Velho Insipiente
Entre perdas e partidas,
Eu sobrevivi.
Saboriei o mais doce,
Engoli o amargo,
Da refeição oferecida,
Para sustentar a carcaça,
Alimentar a alma,
Desnutrir a razão,
Ou coisa parecida.
Andei perdido por entre espinhos,
Caminhei em nuvens,
Em um mundo de ilusão,
Percorri longas distâncias com o vento.
Tantas vezes morri,
Afogado em mares diversos,
Ou inalando, o que foi produzido pela minha própria poluição.
Fui arrebentação em cais,
Não permiti atracação,
Fui neblina tensa, densa,
Obstrui a nítida visão.
Fui vulcão em fúria,
Expeli vidas em brasa,
Afastei a aproximação.
Dos pecados, fui luxúria,
Castidade ofertei em busca do perdão.
Hoje velho sou quase nada,
Sou baú de recordação,
Conto histórias esquecidas,
Sem platéia, nem atenção.
Coisas do passado perdidas,
Vida quase em extinção,
Combato em frentes perdidas,
Oferto a vida por emoção,
A cada dia o fim se aproxima,
Se ainda há tempo,
Não quero perder em vão,
Percorrendo meu caminho,
Faço desvios,
Para quem segue, ter opção,
E não seguir para este abismo,
Só há queda, sem direção.