Conversando com andorinhas

andorinha

um minuto do teu tempo

tão atarefado

por onde andas de dia

antes de te recolheres

aos vãos do meu telhado?

em meu ofício de poeta

tento traduzir teus gazeios

admiro os voos altos

e a algazarra matutina

que me inspira devaneios

nesses tempos tão hostis

busco palavras inversas

para descrever a vida

-a minha ou a tua? –

tanto faz

são apenas umas conversas

que é a vida

senão um nozinho

na linha da eternidade?

mas pensando bem

nossas existências delicadas

têm essa cumplicidade

não conheço Mikonos

nunca fui a Scarborough Fair

preciso cortar os cabelos e estou saudosa do mar

e tu andorinha, de que precisas?

tuas carências são singelas

basta um céu um abrigo e um par

nossa conversa está boa

mas preciso voltar à lida

cuidar aqui do meu ninho

que ser humano é maçante

complica demais a vida

(bom mesmo é ser passarinho)

Helenice Priedols