Herança

Silêncio!

É alma viva de carne morta,

Saia de frente,

Nunca dê as costas.

Viúva chora,

Fofoqueira tira self,

Resume todos os erros do difunto e posta.

Segue para última morada.

Das conquistas,

Levou apenas o terno,

Mais nada.

A cada passo a frente,

Cochichos são ouvidos,

Risadas presas a força,

Nada de silêncio,

Apenas zumbido.

Morto nada pode falar,

Apenas aceita seu destino,

Rumo a um buraco escuro,

E a terra vai encobrindo.

Escuta a pá trabalhando,

Diminui o atrito,

Abafo aumentando,

Alguém está sorrindo,

Uma mulher chorando,

Não fala,

Não vê,

Só está escutando.

Vida eterna?

Paraíso celestial?

Ou eternidade no buraco,

Até pagar todo mal?

A eterna finitude se agarra a um resquício de lembrança,

Na mente daquele velho,

Que um dia foi criança.

Enquanto estiver vivo,

Ainda há esperança,

Se manter vivo pós morte,

Só para ilustres,

Onde a história se torna herança.

Ainda na cama o pobre moribundo pensa em todo dinheiro que deixou,

Os bens que acumulou,

Os belos carros que comprou,

A bela jovem que usou,

Os ricos jantares que desfrutou,

E onde a ganância o levou.

Tinha tanto e mal usou,

Empregados menosprezou,

Tantos mendigos já chutou,

Talvez em vida se achasse o protótipo,

Mas foi algo que não funcionou,

Se há tempo de ser perdoado,

Por favor!

Chamem um padre ou um pastor.

Mas não deu tempo,

A morte se antecipou,

E todo pecado carrega,

Para o outro lado levou,

Vida pós morte em lembrança?

Na arrogância não se criou,

Ficou apenas herança,

Que com o tempo acabou.

Charles Alexandre
Enviado por Charles Alexandre em 13/11/2020
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