Herança
Silêncio!
É alma viva de carne morta,
Saia de frente,
Nunca dê as costas.
Viúva chora,
Fofoqueira tira self,
Resume todos os erros do difunto e posta.
Segue para última morada.
Das conquistas,
Levou apenas o terno,
Mais nada.
A cada passo a frente,
Cochichos são ouvidos,
Risadas presas a força,
Nada de silêncio,
Apenas zumbido.
Morto nada pode falar,
Apenas aceita seu destino,
Rumo a um buraco escuro,
E a terra vai encobrindo.
Escuta a pá trabalhando,
Diminui o atrito,
Abafo aumentando,
Alguém está sorrindo,
Uma mulher chorando,
Não fala,
Não vê,
Só está escutando.
Vida eterna?
Paraíso celestial?
Ou eternidade no buraco,
Até pagar todo mal?
A eterna finitude se agarra a um resquício de lembrança,
Na mente daquele velho,
Que um dia foi criança.
Enquanto estiver vivo,
Ainda há esperança,
Se manter vivo pós morte,
Só para ilustres,
Onde a história se torna herança.
…
Ainda na cama o pobre moribundo pensa em todo dinheiro que deixou,
Os bens que acumulou,
Os belos carros que comprou,
A bela jovem que usou,
Os ricos jantares que desfrutou,
E onde a ganância o levou.
Tinha tanto e mal usou,
Empregados menosprezou,
Tantos mendigos já chutou,
Talvez em vida se achasse o protótipo,
Mas foi algo que não funcionou,
Se há tempo de ser perdoado,
Por favor!
Chamem um padre ou um pastor.
Mas não deu tempo,
A morte se antecipou,
E todo pecado carrega,
Para o outro lado levou,
Vida pós morte em lembrança?
Na arrogância não se criou,
Ficou apenas herança,
Que com o tempo acabou.