Eu, noite.
Nasci em dia claro e sol intenso,
Sou filho da lua,
Moro ao relento.
Meu pai?
Já me falaram ser o vento,
Vezes vem brisa,
Afaga o pensamento.
Ando nas ruas só observando,
Como tem gente subindo,
Outros se escorando,
Os que tem medo,
Se esconde e sofre sempre em algum canto,
Quer o seu quarto,
E no escuro escorrer seu pranto.
E como tem gente que julga,
Privilégio é questão de conduta,
Veio fácil e nunca com luta,
Há pecado, se exime da culpa,
Macieira, não provou da fruta,
Usa saia, já fala que é puta,
O dinheiro é questão de disputa,
Quanto mais, mais tem alma pura,
Na ganância se reina a loucura,
A posse é vício, gera fissura.