Quarentena: Ei! Psiu! A angústia da espera
Ei! Psiu! Já posso sair?
Já passei álcool gel e pus a máscara.
Oi?! Tudo bem?
Alguém aí fora, mantendo a distância?
De repente, tudo mudou.
Me tornei um encarcerado de meu próprio lar.
Tem ordens e essas são do medo – talvez.
Só saia para ir ao mercado e volte logo!
A casa que tanto desejei, voltava todas as noites para ela.
nesse instante, quero sair e ficar longe dela.
Ei! Psiu!
Será que me entende?
Não estamos no mesmo barco.
o meu é estreito - o seu?
nem ouso falar.
Assistindo os mesmos programas
e tentando reviver as mesmas emoções.
Faço as mesmas coisas, mas em um tal de home office.
Minha mobilidade foi reduzida radicalmente.
Ao extremo, quase perco a mente.
Mente de mentir, que o entardecer é a melhor paisagem de se ver.
Eu baixo uma da Net e digo que tirei às sete.
Ei! Psiu!
Do outro lado tem alguém?
A falta que faz a liberdade.
De fato, não é de liberdade, pois nunca tivemos.
Uma farsa que nos fora desvendada com todos dentro de casa.
É, meu irmão!
Esse tal de corona nos deixou de calças nas mãos.
Quarentena de mais de 40 dias?
Sei lá, talvez seja alguma coisa a qualquer dia.
Desvendou o quê?
Para mim foi a parede da sala torta,
a pintura da janela posta,
e a loucura da aparência, desfeita.
O pijama que parece andar sozinho
pela sala, cozinha e corredor
se apossou de vida, vida relativa.
Afinal, ainda todos estão entre quatro paredes
e nesse momento que tardará a se ausentar.
Fica a certeza de que a vida nunca mais será a mesma.
A distância que existia antes, se consolidou em proibições.
Proibições que encarcera a todos - e silencia.
Ei! Psiu! Quando poderei ir até a esquina?