A vida de todo mundo
Chegou como uma onda e o medo veio à sua mercê
Já a aguardávamos ansiosos, veio devagar e calma
Abraçamos o medo, vestimos máscaras e lavamos as mãos
Mergulhamos na solidão de nossos lares, de nossas almas
O tempo foi passando e um torpor tomou conta de nossos dias
O que era para durar um tanto, se estendeu mais e mais
Durou tanto que certo dia amanheceu como se sempre assim fora
Foi prometida provisória, mostrou-se definitiva e desoladora
Vivíamos em comunhão com o inimigo
Já o conhecíamos intimamente, sem nunca tê-lo visto
Não o queríamos, mas já não o temíamos
Agora éramos passageiros de um mesmo imprevisto
Espectadores incrédulos, éramos, de nossa própria rotina
Até que vítimas ganhassem rosto, nome e sobrenome
Quando então o que era invisível tomava forma
A forma de um medo silencioso, impronunciável
Sem mais paz aqui e guerra acolá
Não mais refugiados repatriados
Agora é o medo que impera em todo lugar
Todos refugiados em seu próprio lar
A História sempre me encantou com suas histórias
Jamais imaginei ser sua testemunha ocular
Não dessa forma, não com esse medo
Minha vida agora é a vida de todo mundo