A vida de todo mundo

Chegou como uma onda e o medo veio à sua mercê

Já a aguardávamos ansiosos, veio devagar e calma

Abraçamos o medo, vestimos máscaras e lavamos as mãos

Mergulhamos na solidão de nossos lares, de nossas almas

O tempo foi passando e um torpor tomou conta de nossos dias

O que era para durar um tanto, se estendeu mais e mais

Durou tanto que certo dia amanheceu como se sempre assim fora

Foi prometida provisória, mostrou-se definitiva e desoladora

Vivíamos em comunhão com o inimigo

Já o conhecíamos intimamente, sem nunca tê-lo visto

Não o queríamos, mas já não o temíamos

Agora éramos passageiros de um mesmo imprevisto

Espectadores incrédulos, éramos, de nossa própria rotina

Até que vítimas ganhassem rosto, nome e sobrenome

Quando então o que era invisível tomava forma

A forma de um medo silencioso, impronunciável

Sem mais paz aqui e guerra acolá

Não mais refugiados repatriados

Agora é o medo que impera em todo lugar

Todos refugiados em seu próprio lar

A História sempre me encantou com suas histórias

Jamais imaginei ser sua testemunha ocular

Não dessa forma, não com esse medo

Minha vida agora é a vida de todo mundo

Anelê Volpe
Enviado por Anelê Volpe em 13/10/2020
Reeditado em 13/10/2020
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