SANTA BURRICE

Desde cedo eles nos obrigam a sentar e a calar

Desde muito cedo eles nos querem como seu par

Preferem riscar

Do que arriscar

Riscam os riscos que escorrem nos risos de alguém

Calam-te a boca te chamam de ninguém

Apertam o braço te convencem: um fraco

Disciplina e ordem progresso e nação

Não te deixam falar da grande paixão

Futebol não está em questão

A foto mais fala que a razão

Te controlam a inspiração

Te sufocam a respiração

Se acham muito espertos se dizem cidadãos

Querem o seu senso crítico sem rima

Mas com refrão

Querem o seu umbigo o centro da submissão (2x)

Copiar como um xerox

Ler tudo que é chatox

Com direito a pós-graduação

Sempre sentado atolado de ilusão

A vida passa ao lado

Distante dessa emoção

Eles te oferecem um fardo

Ganhaste no show do Milhão

Um tapinha nas costas do Faustão

E assim aprendemos na escola

A não sermos mais irmãos

Esquecem que a poesia é mais do que teoria

É impulso de vida que nos faz dar as mãos

(Fiz este poema para João, um amigo da faculdade de Letras da Unesp de Araraquara, em 2003, e com este poema tomei consciência do que era ser poeta)