A nega
Lá vem a nega rebuliçosa equilibrando a trouxa de roupas da cabeça.
Com a cuia escanchada na cintura vem espalhando umas alfazemas no vento.
Essa nega é cigana, é serpente e é encanto, não é como aquelas que se dão nas quebradas ou aos patrões por um prato de comida.
Ela quer ganhar o mundo. Vem entoando uns abaluauês misteriosos distraída e profunda até arribar a saia na beira do riacho pra bater roupas nas pedras, incompreendida.
Entoa e entoa alto o canto de trabalho pra ver se a vida se acaba naquelas lonjuras.
De tarde vem dando uns requebros picadinhos no ritmo do seu pensamento.
Ela nem sabe o quanto encanto espalha no colorido da saia, no seu cabelo poderoso e pelo som híbrido de sua voz.
As alfazemas não dissipam nunca naquelas paragens, a nega conseguiu o que queria, ganhou o mundo e deixou sua marca, na testa de patrões vagabundos.