Dilúculo

O relógio na parede, lento, parece parado.

Vejo um retrato e não sei o que acontece,

Fico ali, estático.

Confesso, gostaria de saber onde está,

Se a vida tá uma correria ou sei lá,

Mas não mantenho contato,

É melhor não forçar um diálogo.

As palavras demoram pra sair,

Há tempos não teço alguns versos,

Mas agora escrevo, bêbado, sem medo.

Fui dar um rolê, caminhei pelas praças,

De você lembrei, é, a escrita tá fluindo, me desinibi.

Desinibido, destemido,

Descendo pra casa, na mesma quebrada, fui parado.

Eram os defensores da propriedade privada,

Privando-me de caminhar nas ruas de madrugada.

Você já deve ter percebido que pouca coisa mudou,

A segregação social é um fato,

Impera o medo, o preconceito e o terror,

Mas é a todo custo negado e velado

Por discursos oficiais que suprimem os demais.

As ruas vazias tornaram-se o temor da gente

E há quem diz que a solução são as armas,

Desconhecem a beleza da vida,

De quê é possível viver de maneira diferente.

Por aqui, como sempre, suamos frio no calor.

Lembro-me de quem um dia me falou:

"O presente está carente de amor".

Eliezer Antunes de Oliveira
Enviado por Eliezer Antunes de Oliveira em 19/09/2020
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