Desalienação

Eu amei aquela canção como se quisesse possuí-la, tinha tanta certeza de que ela me completaria, que me daria tudo o que me falta, tudo o que eu almejo. Eu a procurei em muitos lugares mas me angustiava nunca encontra-la. Tentei refazer os seus caminhos, da maneira como eu costumava sentí-los, quis pegar para mim toda aquela dor, me identifiquei com a sua tristeza, implorei pelo seu olhar por aquilo de especial que eu julgava que ela me daria, precisava da sua aprovação, não era liberdade, era prisão.

Quando me dei conta eu não estava indo, eu estava voltando, aquela melodia não viria, não estava lá, como pude tão desesperadamente tentar buscá-la?

A tristeza doeu forte lá no fundo dos olhos, pungente como lágrimas de lua cheia.

Era aquela tão necessária que não sendo possível não doer tanto não se saberia lembra-la de outro modo.

Se segurava a sua imagem como a de uma deusa, ou de belos campos de girassóis.

Sempre que abria aquele baú e tirava com cuidado objetos venerados, o belo da tristeza já não era tão belo e os tesouros se deslizavam pelas minhas palavras e se faziam sentir até no meu corpo.

Sentindo que aqueles sentidos se perdiam me assustava diante da simplicidade do que foi tão guardado e venerado.

Uma outra poesia era escrita, desta vez a nostalgia não falava através dela, embora se tentasse ainda, agora se estava partindo e o destino não é mais o outro.