terra seca
A vida dançou de roda nos meus quintais.
Ao passo de imateriais tambores, fez-se o festim.
Ao fim dele, é a solidão que torna.
Profusos giros e voltas
A vida tão entregue a seus insanos rodopios
E, depois de vários circundares loucos,
Da tontura de tantos transes rítmicos inestancáveis,
É a solidão que volta. Ou que fica.
A prostração da alma
Sem revolta nem ímpeto
Nenhuma raiva, mágoa ou medo.
Apenas a solidão invencível
Junto com a visão retroversa
Das encostas cerradas arrasadas pela lava
Das árvores queimadas, retorcidas como se quisessem.
Nenhuma chuva a lavar as terras que arrasei
As terras por que escorri incandescente
Os solos que queimei com meu corpo
Fundido pela chama de seculares desejos.
Ilusões desfeitas ora ressequidas que esfarelam
Torrões de minha terra que ocupam o espaço de quem não é
Reduzem leitos.
(Pior do que grandes pedras na pele da terra
Que o curso d'água toca e contorna).
Estou agora esse terreno amplo, devastado e seco
Queimado, repleto das cinzas e troncos.
É isso: estou essa terra que reclama chuva forte e farta
A que nela
Sabe-se lá quando
A paixão rebrote.