DIÁLOGO
Hoje saí a esmo num belo diálogo com a chuva, à procura da infância
em minha esplendorosa memória de criança.
Liberdade era o caminho, e brincar, o compromisso com o prazer,
lazer de todo dia.
A chuva gotejava minha pele com seus pingos cristalizados que caiam
densos e serenos a florir o verde, encher os rios, matar a sede,
sede de brincar, de viver, de amar, de ser feliz;
amar os amigos, o barro, o peão, a bola de gude, a árvore que nos acolhia com seus braços fortes e sombra solidária.
O cajueiro com seus galhos inclinados nos deitava e balançava-nos
ao vento, entrelaçados na total cumplicidade de bem estar.
Andávamos, pulávamos, corríamos por veredas e ruas,
nas rotas intermináveis, sem cansaço, sem fome,
com o lume da alegria atravessando aqueles dias para um lugar que só o
paraíso sabe explicar.
A liberdade clama sua voz no mundo dentro de nós.
Hoje convidei meu filho a sair a esmo na chuva à procura da sua infância, muito ocupado entre quatro paredes, na rede que não balança, ele disse não.