DEU UM NÓ
Hoje fui dormir com uma espécie de novelo enleando meu cérebro.
Os fatos mórbidos: o lixo da praia, o odor retrógrado, a pele descascada,
a cratera emocional, o céu sem brilho.
Minha cabeça deu um nó e fui dormir para as manhãs que tudo cura.
Acordei e não senti saudade de ontem.
Estranho, a forma natural com que os seres deveriam se conectar, era
pra deixar saudades de ontem.
O dia que clareia parece estender sua luz para o despertar,
bem estar do que é novo renascer das manhãs de equilíbrio,
vontade, poder transformador.
Até que a noite nos apropria e impõe um cansaço à doce ilusão do que foi manhã.
O sono apaga a memória doída da turba em seus turbantes individuais.
Vem o sonho bailando em vários fios dourados, azuis, lilás, e com ele
a policromia da manhã que se irradia.
A chuva passa e arrasta a sobra do esgotamento do ontem.
A queda na bolsa invadiu portas, janelas, destruiu lares.
Hoje não consegui dormir, amanheceu sem sonho,
as asas não abriram o botão florido das manhãs.
À parte, viceja o anseio incontrolável de ver a multidão se doando
na bela paz edificante dos gestos.