DE VOLTA
Antes de atravessar a ponte da história, alguns encontraram a foto de um monstro largada ao chão, emolduraram e colocaram no meio da sala mais expressiva do lar de suas vidas.
Todo dia quando olhavam para o monstro viam o abismo olhando para eles.
A réstia de céu azul que restava foi dominada pelas nuvens negras e tudo escureceu de repente,
o sertão virou mar, o mar virou sertão.
Na sala de reunião o juiz encaminhou o mandado de prisão e foi alvejado pelo réu,
na saída do bar cultural uma pessoa é abordada por dois homens e convidada a entrar no carro,
o cigarro que estava na boca do rapaz na roda de música e poesia, foi apagado.
O grande cinturão se fecha.
Pessoas correm em meio à multidão,
crianças desesperadas à procura de abrigo,
todas as saídas fechadas, muro intransponível, de concreto armado.
Sonhei que as portas e janelas da casa em que morava davam para um poço profundo em volta.
Acordei e dei de cara com o pesadelo, desci mil metros, para onde eu estava há quinhentos anos.