abismo

Está tudo bagunçado de novo

Uma confusão que me entristece e assusta

Os amanheceres lindos duram pouco

O sol já vem empoeirado

A claridade da manhã logo se esvai

Tomada pela bruma seca da inquietação e da urgência

Da ausência que não aguento

Da impossibilidade que já não é, mas persiste.

Romper a cápsula é abrir um mundo de séculos de premência

Um mundo de descontrole, em que me desconcentro e desconcerto

(Da caverna aberta

Muito mais que antes não era escapa comigo

E está aqui me tentando).

Vivo o transporte visceral da ética à estética

Uma pressa que pulsa no peito e na pele

Um fogo que arde onde o corpo começa.

Meus olhos viraram armas com miras de precisão

Descuidados de meus passos audazes

Nessa terra delicada e movediça em que me encontro.

E era o tempo. Era esse: Não podia ser antes. Nem depois.

Mas agora é o perigo sem medida. O transe. O clamor da aventura.

E o ócio pandêmico, essa imobilidade querentênica pioram tudo!

Suam-me de febre, proliferam desatino

Fermentam o delírio, a doideira, o assombro

Amolecem-me a correção, dissolvem-me a disciplina

Implantam-me o caos, a balbúrdia, a desordem.

Sinto-me romper a conformidade

Quando apenas devia desfalecer nos braços tranquilos da regra

No passo compassado da rotina e da simplicidade.

Intempestivo e tempestuoso

Volto à ebulição orgíaca do tropel

Como quem salta do abismo

Que me olha.