Asfalto

Passou o pano,

O vermelho saiu,

Mas o sangue ficou,

Embrenhou pelo quente asfalto.

Velas acesas,

Cerume corrente,

Rio caldaloso,

Preces para o alto,

Para aquele que morreu, com um tiro no asfalto.

Descem o morro, saem de palafitas,

A comunidade se esvazia,

Rasgam as vestes que os faziam invisíveis,

Enchem ruas,

Mostram indignação,

O poder reprime, oprime,

Tira a fúria em assalto,

Mais uma vez, higieniza o asfalto.

Asfalto preto pra branco pisar,

Asfalto chega pra rico mandar,

Asfalto leva pra todo lugar,

Asfalto define o que vai segregar.

...

Tombou no asfalto,

Olhou para o alto,

Pediu perdão.

Pensou nos pais,

Em seus avós,

E nos Irmãos.

O seu pecado,

Foi correr,

Em direção.

A um cara armado,

Que julgou:

Preto ladrão.

Foi alvejado,

Outra vítima,

Da exclusão.

Perdeu a vida,

Pra não perder o busão.

Charles Alexandre
Enviado por Charles Alexandre em 23/06/2020
Reeditado em 23/06/2020
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