Asfalto
Passou o pano,
O vermelho saiu,
Mas o sangue ficou,
Embrenhou pelo quente asfalto.
Velas acesas,
Cerume corrente,
Rio caldaloso,
Preces para o alto,
Para aquele que morreu, com um tiro no asfalto.
Descem o morro, saem de palafitas,
A comunidade se esvazia,
Rasgam as vestes que os faziam invisíveis,
Enchem ruas,
Mostram indignação,
O poder reprime, oprime,
Tira a fúria em assalto,
Mais uma vez, higieniza o asfalto.
Asfalto preto pra branco pisar,
Asfalto chega pra rico mandar,
Asfalto leva pra todo lugar,
Asfalto define o que vai segregar.
...
Tombou no asfalto,
Olhou para o alto,
Pediu perdão.
Pensou nos pais,
Em seus avós,
E nos Irmãos.
O seu pecado,
Foi correr,
Em direção.
A um cara armado,
Que julgou:
Preto ladrão.
Foi alvejado,
Outra vítima,
Da exclusão.
Perdeu a vida,
Pra não perder o busão.