Soul

Hoje,

A geladeira está vazia e fria,

Hoje,

Me faz falta o que é comum em toda padaria,

Hoje,

Eu tô no frio sem cobertor, desamparados por essa sociedade frígida.

Hoje,

Não tenho pais, não tenho irmãos e muito menos tias.

Eu sou a vítima deste vírus e do ego da soberania,

E não me enquadro nos critérios do bolsa família,

Sou o expurgo do excesso e retrocesso que a sociedade cria.

A solidão é companheira em todos os dias,

O isolamento é a desculpa que muitos queriam,

Só não entendi o que me faz criar sobrevida.

Talvez a pena de um delito cometido em uma outra vida?

Fui condenado a esta carcaça e a uma mente que julgam subvertida,

Aprisionado a este mundo, sem apelo, sem a possibilidade de recorrer à revelia.

Estou aqui para morrer e virar estatística,

Bolsas de apostas especulam o dia da partida,

Se não do vírus é da fome ou coisa parecida,

Mas na verdade é o preconceito e o esquecimento que roubam meus dias.

Através de mim você terá a tão sonhada salvação,

Quantos me fazem o bem em busca do divino perdão?

Fazem selfs da caridade, distribuindo e entregando o pão,

Achando que Deus usa a internet buscando interação,

E se der likes de tuas postagens as portas se abrirão.

Sou invisível, evitável durante a luz do dia,

Busco alimento e acalento pelas noites frias,

Sou firmamento que te apoia pelas mãos divinas?

Ou o inferno interminável, esgoto da vida?

Charles Alexandre
Enviado por Charles Alexandre em 21/06/2020
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