Soul
Hoje,
A geladeira está vazia e fria,
Hoje,
Me faz falta o que é comum em toda padaria,
Hoje,
Eu tô no frio sem cobertor, desamparados por essa sociedade frígida.
Hoje,
Não tenho pais, não tenho irmãos e muito menos tias.
Eu sou a vítima deste vírus e do ego da soberania,
E não me enquadro nos critérios do bolsa família,
Sou o expurgo do excesso e retrocesso que a sociedade cria.
A solidão é companheira em todos os dias,
O isolamento é a desculpa que muitos queriam,
Só não entendi o que me faz criar sobrevida.
Talvez a pena de um delito cometido em uma outra vida?
Fui condenado a esta carcaça e a uma mente que julgam subvertida,
Aprisionado a este mundo, sem apelo, sem a possibilidade de recorrer à revelia.
Estou aqui para morrer e virar estatística,
Bolsas de apostas especulam o dia da partida,
Se não do vírus é da fome ou coisa parecida,
Mas na verdade é o preconceito e o esquecimento que roubam meus dias.
Através de mim você terá a tão sonhada salvação,
Quantos me fazem o bem em busca do divino perdão?
Fazem selfs da caridade, distribuindo e entregando o pão,
Achando que Deus usa a internet buscando interação,
E se der likes de tuas postagens as portas se abrirão.
Sou invisível, evitável durante a luz do dia,
Busco alimento e acalento pelas noites frias,
Sou firmamento que te apoia pelas mãos divinas?
Ou o inferno interminável, esgoto da vida?