SemeaDOR
O choro se desfaz dos olhos
Como vagem debulhada
E esmoído em lágrimas
Do rosto se perdem, desmanchadas
Caem sem caber
Moem até doer
Remoem até corroer
Molham, mesmo que não lavem
Não deixam o rosto se esconder
São fonte que ninguém quer beber
Cheia de sal e mau gosto
Brotam incontidas do rosto
E nos soluços podem se recolher
Também são sementes
Que podem ser plantadas
Semeadas no solo da dor.
É que o coração ferido
às vezes é o solo mais rico
E invoca o nosso 'eu semeador'.
Duro plantar quando lágrimas escorrem como sangue
Na alma, a ferida não estanque
Mas aí talvez esteja o segredo
Semear mesmo com dor e com medo
Pois a vida brota até de onde se duvida
Na hora da colheita
A lembrança da dor quase escorreita
Dará lugar à vontade satisfeita
Sempre é tempo de plantar
Mesmo com lágrimas.