SemeaDOR

O choro se desfaz dos olhos

Como vagem debulhada

E esmoído em lágrimas

Do rosto se perdem, desmanchadas

Caem sem caber

Moem até doer

Remoem até corroer

Molham, mesmo que não lavem

Não deixam o rosto se esconder

São fonte que ninguém quer beber

Cheia de sal e mau gosto

Brotam incontidas do rosto

E nos soluços podem se recolher

Também são sementes

Que podem ser plantadas

Semeadas no solo da dor.

É que o coração ferido

às vezes é o solo mais rico

E invoca o nosso 'eu semeador'.

Duro plantar quando lágrimas escorrem como sangue

Na alma, a ferida não estanque

Mas aí talvez esteja o segredo

Semear mesmo com dor e com medo

Pois a vida brota até de onde se duvida

Na hora da colheita

A lembrança da dor quase escorreita

Dará lugar à vontade satisfeita

Sempre é tempo de plantar

Mesmo com lágrimas.

Alda Guimarães
Enviado por Alda Guimarães em 15/06/2020
Código do texto: T6978343
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