AS VEZES SINTO DO CORPO

As vezes sinto do corpo

O movimento das estrelas

O caos dos cosmos, a mudez nebulosa

Os buracos negros, que ficam entre os peitos e entre os rins

O movimento feroz das correntezas escorrendo veias

A seca na garganta e a mudança da matéria que dela ocorre

As vezes sinto do corpo

O céu vazio e infindo entre os espaços atômicos

Os nós dos galhos enramados entre as curvas os troncos

As peles folhas cascas das muitas camadas

Os fluxos gozos lagrimas suor flume do chão

As vezes sinto do corpo

O rachar da terra alma placas tectônicas

As pontes em ruínas conexões neurais

As águas retidas em mãos pés

As erupções na pele os transbordamentos

O que aperta músculos a língua pulmão

As vezes sinto do corpo

A cegueira de ver inerte impalpar

A fome do todo cheia vazio

A escassez o excesso

O que espaça o que recalca

O bater coração universo mundo

As vezes sinto do corpo

As formas as ordens a anarquia

O pasmar horizonte devaneio

Os desmoronamentos a rocha

O significar o ser o que penetra e invade

O que alcança impulso o tempo

O que cola em chão teia de nós

O que desmancha e flui

As vezes sinto do corpo

O silencio

O silencio

O silencio

E as mãos que tentam botar o universo em ordem em um pedaço de papel.