À LUPA COM EDMOND DANTÈS

«Como as árvores morrerei de pé»

Há bocas que falam de uma forma

E o coração, esse, sente-o diferente,

Há olhos que vêem duma maneira

E visões da alma com outra imagem,

Há palavras que doem como pedras

E há razões feitas mas contraditas.

Pus-me no lugar da Providência

Com o fim de recompensar os bons…

E Deus sendo vingador, se é que o é,

Me conduza a punir os iníquos,

Pois, que sentido tem a justiça

Quando ela a si mesmo se não cumpre?

O melhor da vida é o sentido da morte:

A todo o fraco falta-lhe a segurança

E tudo corre de feição a quem é forte,

Mas a Natureza tem seus desígnios

E quem é forte pode ser destruído

Enquanto o fraco verá a sua glória.

Porém os ímpios não morrem assim,

Deus, aparentemente, protege-os

Mas o destino torna-os vingativos;

Esse mesmo Destino está no tempo

E o tempo, como um fiel de balança,

Revela a cada hora a realidade.

Quanto ao meu vizinho, dele nunca cuido

E, à Sociedade, nada faço por ela

Porque ela, também não cuida de mim.

Ela minimiza a minha auto-estima

E torna banal a minha estimativa,

E ela e meu vizinho, devem-me favores.

Todo o mal do mundo tem dois remédios:

O primeiro é o tempo, o outro, o silêncio.

O Reino de Mim é grande como o mundo:

Não sendo, nem italiano, nem francês,

Nem indiano, ou americano, ou espanhol,

Eu sou, convictamente, cosmopolita.

Quanto ao meu ser, eu sou como a árvore.

Mas sei bem que não é dela que a flor sai

Antes porém, é a flor que sai dela

E, também dela, é que sai todo o fruto

Às vezes ruim, quase sempre bom,

E da Alma depende o prazer de viver…

Eh-lá, Edmond Dantès, como vai a Vida?

A minha ou a de outrem – tanto faz! –

Estou de bem co´ ela por mal dos homens,

E de bem co´ os homens para mal dela.

Mas, entre ela, eu e a Providência, sei bem

Que, como as árvores, morrerei de pé!

Frassino Machado

In JANELAS DA ALMA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 30/05/2020
Reeditado em 30/05/2020
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