Noite na cidade
Vento gelado no rosto
Chuviscos de lágrimas inacabadas
Gosto de tijolo com cimento molhado
- tempos conflitantes sentidos! -
Sombras daquilo que não existe
Prédios, nus e frios, sobre o chão
De pé, construídos; deitados, os homens
Invívidos, sem mais nada.
Solidão pairando de quarto em quarto
A noite fria mal conduzida
Não sustento que cria, em todos, fundos buracos
- tempos de silêncio ouvidos! -
Fortes suspiros das madrugadas
Muitas coisas acontecidas
Sem razões, dados claros motivos
Ares impuros para todos os lados.
Aqui, não tem o frescor das areias pisadas
Tampouco o céu no qual todos descansam os olhos, a alma
Não há cheiro de terra, nem folhas trazidas
- sem campos, sem perfume das flores! -
A noite não abre caminhos destinados à nostalgia
De memorável infância ou de frutíferos sonhos
Não há a beleza desse imaginário ficcional
Poetas embebidos do objeto colossal
A vida estava mesmo, ainda que morosa, a andar
Apesar da incessante inquietude
Os pensamentos, jamais, deixaram de vagar
Por entre nuvens, por entre refúgios
- onde me encontro e me vejo?
Onde posso, enfim, estar na noite
Fria, viajante
Em um campo tão distante?