Noite na cidade

Vento gelado no rosto

Chuviscos de lágrimas inacabadas

Gosto de tijolo com cimento molhado

- tempos conflitantes sentidos! -

Sombras daquilo que não existe

Prédios, nus e frios, sobre o chão

De pé, construídos; deitados, os homens

Invívidos, sem mais nada.

Solidão pairando de quarto em quarto

A noite fria mal conduzida

Não sustento que cria, em todos, fundos buracos

- tempos de silêncio ouvidos! -

Fortes suspiros das madrugadas

Muitas coisas acontecidas

Sem razões, dados claros motivos

Ares impuros para todos os lados.

Aqui, não tem o frescor das areias pisadas

Tampouco o céu no qual todos descansam os olhos, a alma

Não há cheiro de terra, nem folhas trazidas

- sem campos, sem perfume das flores! -

A noite não abre caminhos destinados à nostalgia

De memorável infância ou de frutíferos sonhos

Não há a beleza desse imaginário ficcional

Poetas embebidos do objeto colossal

A vida estava mesmo, ainda que morosa, a andar

Apesar da incessante inquietude

Os pensamentos, jamais, deixaram de vagar

Por entre nuvens, por entre refúgios

- onde me encontro e me vejo?

Onde posso, enfim, estar na noite

Fria, viajante

Em um campo tão distante?

Mariane Amaral
Enviado por Mariane Amaral em 07/05/2020
Código do texto: T6939838
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