UM TAPETE SOBRE A VIDA
Asfaltaram o terreno das minhas memorias.
Muraram o chão das minhas visões.
Empurraram para longe toda a terra.
Limitaram o terreno do decolar dos meus sonhos.
Como uma canibal a cidade come o que a rodeia.
A civilização continua seu projeto de entapetar o mundo.
De roubar o que o nosso corpo nos pode dar.
Drummond não queria volta para a velha casa, pois temia perder as lembranças.
Pessoa era grande e rico pelo o que via na sua aldeia.
Saramago aceitava a mudança e seguia engolido pelo novo.
Mas eu, eu voltei, vim me deparar com o asfalto e os muros.
Vim recordar da terra vermelha, dos baldios, do pasmar da linha do horizonte.
Vim conflitar entre as forças que eram e o que agora são
Recalcado, comprimido, prensado
Agora as velhas lembranças são desertos, em que só eu posso atravessar.