A HERA E O MURO

Sou como a hera, que sem olhar

Para a idade do muro,

A ele apego-me com raízes.

É este velho muro, velho e forte.

Esse muro roto ,

Esse muro que resistiu à todas as intempéries,

É esse muro que me sustém.

Esse muro que silencioso

Presenciou fatos, que ,

No bojo de sua sombra, ocultou amores,

Que viu corpos, que ouviu queixas,

Juras, prantos...

Que debulhou-se ao ver a morte,

Que guarda segredos, indiferente,

Olhando à todos silenciosamente.

Esse muro ferido, dilacerado,

Que há tanto tempo não é caiado,

Que em suas chagas nodosas,

Reserva a substancia que faz

A flor mais formosa.

Muro, muro, oculta-me as feridas

Que trago nas raízes.

Deixa-me adornar-te a face macerada,

Já cansada, tão cansada.

Deixa-me enlaçar-te e, confidenciar -te,

Meus amores que se foram.

Deixa-me tecer rendas verdes à tua volta,

Deixa-me ouvir-te as histórias, tuas memórias,

Deixa-me amar-te apenas, que o tempo,

O tempo e tua idade... não me importa.

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Pethrus
Enviado por Pethrus em 30/04/2020
Código do texto: T6933282
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