A HERA E O MURO
Sou como a hera, que sem olhar
Para a idade do muro,
A ele apego-me com raízes.
É este velho muro, velho e forte.
Esse muro roto ,
Esse muro que resistiu à todas as intempéries,
É esse muro que me sustém.
Esse muro que silencioso
Presenciou fatos, que ,
No bojo de sua sombra, ocultou amores,
Que viu corpos, que ouviu queixas,
Juras, prantos...
Que debulhou-se ao ver a morte,
Que guarda segredos, indiferente,
Olhando à todos silenciosamente.
Esse muro ferido, dilacerado,
Que há tanto tempo não é caiado,
Que em suas chagas nodosas,
Reserva a substancia que faz
A flor mais formosa.
Muro, muro, oculta-me as feridas
Que trago nas raízes.
Deixa-me adornar-te a face macerada,
Já cansada, tão cansada.
Deixa-me enlaçar-te e, confidenciar -te,
Meus amores que se foram.
Deixa-me tecer rendas verdes à tua volta,
Deixa-me ouvir-te as histórias, tuas memórias,
Deixa-me amar-te apenas, que o tempo,
O tempo e tua idade... não me importa.
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