saudade

Uma agulha fina e longa fincada cuidadosa e profundamente

No centro do quadrante inferior direito do lado esquerdo do peito.

Uma nuvem de algo bem menos que algodão, bem menos,

Fingindo bloquear a garganta.

Uma sutil consequente falta de ar.

Seria ansiedade, mas é saudade.

Ansiedade tardia de perdas que não se sabem provisórias.

Uma espécie de hipoglicemia da alma: falta-nos subitamente o tempo.

Faces revistas breve e precariamente ao longe

Como num sonho mal conectado.

A lembrança dos fatos vividos

E a torta lembrança dos apenas imaginados

Queridos como um delírio.

O estranho misto de dor e alegria que as lágrimas parcialmente absorvem.

O resto vira dor.

Não deu mais tempo

Havia tanto que dizer

Tanto que fazer com teu sorriso conhecido.

Mas acabou, embora continue.

Resta-me alimentar-me do enlevo da procura

Do reencontro.

E respiro.