Sonhando acordado.

Sonhando acordado,

voando alto.

Meus pés não tocam o chão.

Sou uma pena,

o ferrão da abelha,

a vitória e a tristeza.

Sonho do sonhador,

sou o pincel de Dalí,

o mal de Caim.

Eu mesmo dentro de mim.

Não conjugo verbo,

as coisas são melhores assim.

Uma medalha pro perdedor,

a dor do ganhador.

Cada gota de suor

do corpo cansado.

Esperando descanso,

deito e viro pro lado.

Sou o sentimento afogado,

a ternura recaída nos braços.

A múmia da Cleópatra,

o nevoeiro misterioso lá fora.

Quero seu colo,

como eu te queria agora.

As palavras confundem meus hábitos

e esperam sentimentos de glória.

Sabe-se que o mundo é confuso,

de valores estranhos.

Sabe-se que sou o saber,

e que ainda vou muito aprender.

Sou animal,

sou pensador.

Penso a dor,

todo o tempo.

Eu não estaria aqui agora,

pois se os olhos não mentissem

e confundissem o que sinto.

Esses versos são repetidos.

Assim como toda a vaidade e as palavras,

e as palavras... vem me derrubar mais uma vez.

Não queria esse tom de voz,

sou a estrela maior.

A via láctea,

ursa polar.

Posso ser tudo, eu,

sonhando acordado.

Não o tenho mais pena de correr.

Eu tenho é mais perna pra esperar,

entender o significado das coisas que ainda não vi,

nem senti.

Sou tudo menos nada,

sou o nada no meio de tudo.

Eu sou o pássaro em cima do muro,

porque ainda minhas asas estão molhadas demais

pra voar de novo.

E o tempo é quanto?

Quanto custa todo o tempo do mundo?

Eu sou a vida.

Mas afinal,

somos todos cachorrinhos

esperando do lado de fora da casa…

sem relógio.