Falta de mim
Tenho sofrido com a falta de mim.
Sinto que há uma ilusão confortável que me mantém aquecido com a minha própria existência.
Que alimenta essa versão da gente que existe com o outro, quando o outro está ali e se faz presente.
E que os prósperos momentos felizes foram apenas aqueles em que estive entre amigos.
Mas que são momentos? Que são amigos?
Que é a vida enquanto a vivemos?
Os românticos falam em solitude com uma taça de vinho na mão. Mas eu não. Não sei o que é ser eu, e por isso tenho sofrido com a falta de mim.
Não me vejo ali, não me vejo.
Me marco presença quando estou rodeado de sentido, de história que deixo e que levo.
Me faz falta ler essas histórias.
Penso que há uma ilusão em mim, que me pego pensando em escrever sobre os outros só para não me sentir sozinho enquanto vivo outra história sem presença, sem platéia.
Penso que vivo uma ilusão.
É que existo constantemente, mas só vivo fora de mim.