Quarentena não é fácil
Tem horas que fico na varanda
Sento a bunda de um lado na cadeira
Depois viro pro outro lado
As conversas entediosas já se repetem
Dos lugares e das pessoas
Fulano, ciclano, beltrano
Quem fugiu com quem
Quem casou bem
Quem se ferrou (abre aspas)
Parece que o tempo parou
Do relógio só ficou o badalo
De uma lado para o outro
Vai e vem
Vem e vai
E eu ali vesgo, parado.
Nem muda mais a paisagem
Já sei a hora em que a goiaba vai cair
O passarinho vai pousar
O caminhão do lixo vai passar
A noite eu sonho
Vejo um mundo diferente
Uma multidão me cerca
Abraça-me, beijos, aplausos pra todo lado
...Ele voltou novamente...
O sol vem raiando
A névoa vai levando os restos dos sonhos
Livrei-me dos pesadelos
Lembrando dos olhos verdes
Agora é dia
Lá vem o noticiário
Vou contar os contaminados
Os mortos e os remanescentes.
Acho que vou fazer pinturas
Que vão ficar pra história
Olhando pela janela
As ruas vazias que fazem o coração chorar.
O mundo que está aí já não me basta
É preciso ir além
Abrir o portão
E chegar até a próxima esquina.
Respirar o ar puro
E acreditar que tudo é possível
Até sobreviver na distancia de um amor encantado.
Malévolo, um vírus descobriu
As cicatrizes ainda abertas, das feridas mal curadas.