Poetas e gatos
Poetas me lembram gatos,
silêncio e solidão
é o que nos fazem fortes,
nada de malditos deuses com seus infelizes altares de servidão.
Sono, vadiagem e desapego,
preguiça e luxúria,
é disso que somos feitos
é isso que amamos
meus irmãos,
mas o preço é cobrado, e é caro.
Por fim,
nossos donos
com tristeza nos olhos,
nos agarram pelo rabo
limpando nossas bundas
enquanto deitamos, altivos e desajeitados
em nosso próprio excremento,
sem nunca perder o duro orgulho
nem a férrea e inesperada agressividade,
dignos de pena e de temor.
Depois de flutuarmos em tantos telhados
depois de termos namorado todas as faces
de cada estrela perdida,
tantos orgasmos sob o escuro céu,
morrer só,
embaixo da mesa da cozinha
sob a própria merda,
é o nosso destino,
é para onde
tudo nos arrasta.