VAMOS FINGIR QUE O MUNDO EXISTE
De pés descalços
Pela areia úmida andamos
Me dê tua mão
Ponho-me a te beijar
Os ruídos são apenas do mar
O marulhar distante
O ronco do gigante
Não nos atordoa
As montanhas reluzentes
Tremulante umbrela da palmeira
O vagalhão nos envolve
A brisa sopra acarinhante
Mar bravio
Obstinado desejo do amor
Momento bom de amar
De ouvir a suave voz
De tocar tuas ilhargas
Para sentir a singeleza
Da verdejante montanha
Do sol que me aquece todo
Do rio que aqui deságua
E não traz qualquer mácula
Apenas amontoa dunas
Que vão servir de folguedo
De deitar, depois rolar
Ah, onda branca que transporta
Uma lembrança de longe
E aqui no quebramar
Silenta feito bebê
No colo da mãe a dormitar
Da vontade de não morrer
Fingir que o mundo existe
Num eterno vaguear.
-Nestes dias de clausura abraçamos, sem receio, a poesia...